Sobre o IGP

Por Rogério Sandoval Silveira

O QUE É ?

A sigla IGP (Internationale Gebrauchshunde Prüfungsordnung ou Regulamento de Prova Internacional de Cão de Utilidade), substitui o IPO, e o antigo Schutzhund.

O nome Schutzhund é composto de duas palavras. Schutz – Proteção e Hund – Cão, portanto Schutzhund é a Prova do Cão de Proteção.

É uma prova dividia em três seções: A – Faro, B – Obediência e C – Serviço de Proteção – como um triátlon de cães.

Existem três níveis de dificuldade. Nível 1 – prova básica, 2 – intermediária e 3 – avançada. As grandes competições mundiais somente acontecem no 3 (grau avançado). Já para selecionar um cão para acasalamentos, exige-se o 1 (grau básico) como pré-requisito mínimo.

SIGLAS

Na Alemanha eram utilizadas as sigla SchH, IPO e VPG, mas atualmente se utiliza IGP (de 1 a 3).

A FCI utiliza a sigla IGP (igualmente de 1 a 3).

No Brasil, a CBKC também utiliza IGP (de 1 a 3).

Temos provas afins:

BH (Cão Acompanhante) – obediência muito básica e prova de trânsito. O BH é a principal “arma” da cinofilia europeia no controle à posse responsável.

AD – Prova de Resistência

FH – Prova de Faro (prova somente de faro para cães avançados nessa seção).

A HISTÓRIA

Inicialmente foi criado como uma prova para selecionar os cães pastores alemães aptos para o trabalho (serviços policiais em geral, embora estivesse sempre ligado a um clube de civis). Com o tempo, as outras raças alemãs (de guarda e serviço policial) também adotaram essa prova num esforço de padronizar e garantir a permanência da funcionalidade entre elas. Foi criada a AZG, entidade para nortear e adequar o trabalho aos clubes especializados dessas raças, e ela estabeleceu o SchH (atualmente IGP) e toda a sua família (BH, SchH 1, 2, 3, FH 1 e 2, AD). A AZG é composta de uma junta representada por diretores de adestramento de cada um dos clubes especializados e de esportes.

O objetivo principal é manter o caráter seletivo de todas essas provas, ou seja, que a média da criação dessas raças possam ser aproveitadas para auxiliar o homem em várias utilidades, que seja uma forma de auxiliar a selecionar cães mais rústicos e saudáveis para as funções. Que os cães selecionados apresentem predisposição natural para tais comportamentos.

Algumas tendências mundiais fizeram com que as provas de trabalho fizessem ajustes às necessidades. Os cães, ao mesmo tempo em que ganhavam adeptos, ganhava também inimigos, gente que dizia que cães representam risco à população, com a principal representação do partido verde no continente europeu. O mundo foi se tornando menos seletivo e a atividade do adestramento e da seleção de cães foi se tornando marginalizada. As pessoas passaram a associar isso à volta ao nazismo. Foi aí que o BH tomou seu espaço como prova de cães sociáveis e pré-requisito do SchH, que o nome SchH (proteção) mudou para VPG (prova de versatilidades para cães de utilidade), que o caráter esportivo foi incorporado, que a seção C (serviço de proteção) foi ficando cada vez mais rígida no sentido de controle. Hoje, no entanto, passou-se a utilizar o nome IGP.

O IGP influenciou fortemente na elaboração de todas as provas militares alemãs e faz a ponte na junção dos dois mundos. É uma forma de poder selecionar (princípio de seleção) cães para várias funções, sem em nenhum momento perder a responsabilidade civil e ainda com um apelo esportivo para atrair novos adeptos.

Nos últimos anos, o esporte tem evoluído muito no Brasil e ano a ano vem ganhando muita força.

COMO FUNCIONA

No Faro (seção A) – o cão deve procurar 3 objetos deixados no transcorrer de um rastro continuo com um mínimo de 600 passos de distância, com uma hora de antecedência. A pista é marcada por uma pessoa estranha ao cão, que ao marcá-la marchando, deve deixar uma estaca (sinalizando o inicio da pista) no inicio, ao chegar à metade da primeira reta (após os 100 primeiros passos), deixa no chão o primeiro objeto. O segundo objeto deve ficar na metade da terceira reta e o terceiro objeto no final da pista (final da quinta reta). Os objetos devem ser de cor não distinta do ambiente, feitos de couro ou tecido ou madeira, num tamanho de 10 cm de comprimento por 2 a 3 cm de largura e 0,5 a 1 cm de espessura. A pista deve ter 5 retas, portanto 4 ângulos retos. O cão deverá trabalhar de forma intensa (farejando com intensidade e concentração) e com o nariz rente ao chão no transcorrer de toda a pista, sem qualquer influência de seu condutor que o conduz segurando a ponta da guia (guia de 10 metros). Ao localizar cada objeto, o cão deve deitar-se com ele entre suas patas dianteiras.

No grau 1, a pista é marcada pelo próprio condutor, é formada de 3 retas e 2 ângulos e tem um mínimo de 300 passos. No 2, a pista é marcada por uma pessoa estranha, é formada de 3 retas e 2 ângulos e tem um mínimo de 400 passos.

A Obediência (seção B) – é composta de 9 (8 no grau 1 e 9 no 2) diferentes exercícios.

1 – Condução Sem Guia – onde o cão deve seguir colado a perna esquerda do seu condutor, alegre e atentamente às mudanças de direção, velocidade e paradas. Durante o percurso, serão executados 2 disparos (calibre 6 mm de festim) e logo a seguir, cão e condutor passarão por um grupo de pessoas em movimento. Durante todo o percurso, o cão deverá se manter totalmente indiferente ás outras situações, estando atento a seu condutor. * graus 1 e 2 são iguais

2 – Senta em Marcha – após 10 a 15 passos de caminhada, o condutor dá o comando “Senta”, sem mudar o ritmo das passadas ou virar-se para o cão. O cão deve sentar-se rápida e corretamente. Após mais 15 passos, o condutor para, vira-se de frente e depois da autorização do juiz, retorna ao cão. *grau 1 e 2 são iguais

3 – Deitar durante o Trote com Aproximação – o condutor, após 10 a 15 passos normais, passa para a velocidade de trote, entre 10 a 15 passos no trote, dá o comando para o cão deitar, sem mudar o ritmo ou olhar o cão. O cão deverá deitar rápida e corretamente. Após mais 30 passos, o condutor para e vira-se de frente para o cão. Sob ordem do juiz, o condutor chama seu cão pelo nome ou com o comando “aqui”. O cão deve aproximar-se alegre, rápido e direto para seu condutor e sentar-se prontamente a sua frente. * grau 1 e 2 – Deitar em marcha com aproximação

4 – Parar durante o Trote – após 10 a 15 passos em trote, o condutor dá o comando “Para”, sem mudar o ritmo ou olhar o cão. O cão deverá parar imediata e estaticamente. Após mais 30 passos, o condutor para e vira-se de frente para o cão. Sob comando do juiz, o condutor chama o cão que deverá aproximar-se alegre, rápido e direto para seu condutor e sentar-se prontamente a sua frente. * grau 1 não tem, grau 2 – Parar durante a marcha

5 – Buscar Halter em terreno plano – o condutor lança o halter de 2 kg a uma distância aproximada de 10 ms, e ao comando dele o cão deverá buscá-lo rápida e prontamente sem mascar o halter, sentando-se prontamente a frente de seu condutor para entregá-lo. * grau 1 – 650 g e grau 2 – 1 kg

6 – Buscar halter com obstáculo de 1 m – o condutor, a frente do obstáculo de 1 m de altura, lança o halter (650 g) sobre ele. Ao comando “pula”, o cão deve pular o obstáculo rapidamente, buscar o halter e fazer o salto de volta, sentando-se prontamente a frente do condutor. * grau 1 e 2 são iguais

7 – Buscar halter com plano inclinado (1,8 m) – o condutor, a frente de um plano inclinado de 1,8 m de altura, lança o halter (650 g) sobre ele. Ao comando “pula’, o cão deve pular o obstáculo rapidamente, buscar o halter e fazer o salto de volta, sentando-se prontamente a frente de seu condutor. * grau 2 é igual e no grau 1, apenas fazer um salto (sem o halter).

8 – Mandar em frente com deitar – após caminhar de 10 a 15 passos, dá o comando para o cão ir em frente, levantando o braço e indicando a direção e permanecendo parado. O cão deverá velozmente deslocar-se em linha reta, na direção indicada, por pelo menos 30 passos. Sob ordem do juiz, o condutor deve comandar “deita” e o cão deve interromper a corrida prontamente, deitando-se de forma rápida. * grau 1 e 2 são basicamente iguais

9 – Deitar sob distração – quando do inicio da seção B de outro cão, o condutor conduz seu cão para um local indicado pelo juiz e o deixa lá, enquanto o outro cão executa os exercícios de 1 a 7. Durante esse tempo, o condutor deve permanecer de costas e a uma distância de 30 passos de seu cão. * grau 1 e 2 são basicamente iguais

Serviço de Proteção (seção C) – é composto de 8 exercícios (5 no 1 e 7 no grau 2)

1 – Revistar Esconderijos – num campo de futebol e com 6 esconderijos (3 de um lado e 3 do outro) , o condutor caminhando na linha média do campo, deverá comandar o cão a revistar todos os esconderijos. O cão deve revista-los rapidamente (os esconderijos estão dispostos de forma que o cão ao percorrê-los, faz um ziguezague em seu trajeto), batendo os seis esconderijos e encontrando o figurante no ultimo (no sexto). * grau 1 – 2 esconderijos, grau 2 – 4 esconderijos.

2 – Vigiar e Latir – ao encontrar o figurante, o cão deve vigia-lo com determinação e total atenção, latindo continua e ritimadamente. Os latidos devem ser fortes e vigorosos. O juiz ordena que o condutor se aproxime e chamar o cão para junto dele. * grau 1 e 2 são iguais

3 – Impedimento de Fuga do Figurante – o condutor ordena que o figurante saia do esconderijo e este em local determinado para a realização da fuga. O condutor conduz seu cão ao local pré-marcado lateralmente ao figurante e o posiciona deitado lá. Enquanto o condutor se posiciona atrás da barraca, o figurante empreende uma fuga e o cão deverá impedi-lo imediatamente, mordendo fortemente a luva. Sob ordem do juiz, figurante deve parar de correr e permanecer estático. Ao perceber o figurante parado ou sob um único comando do condutor, o cão deve imediatamente soltar o figurante e após largá-lo, vigia-lo atentamente. *grau 1 e 2 são iguais

4 – Defesa de um Ataque na fase de vigilância – após 5 segundos, o figurante empreende um ataque e o cão prontamente deve defender-se, mordendo a luva imediata e fortemente. Tendo o cão firmado a mordida, o figurante lhe desfere dois golpes com o bastão regulamentar. Sob ordem do juiz, o figurante cessa a luta e o cão deverá saltá-lo imediatamente ou ao primeiro comando de seu condutor. Após largar, o cão deve vigiar o figurante atentamente. O condutor se aproxima, parando ao lado direito do cão. * grau 1 e 2 são iguais

5 – Transporte nas Costas – o condutor ordena que o figurante ande e segue-o, com seu cão a uma distância de 5 passos. O cão deve vigiar o figurante atentamente, sem que se adiante em relação a seu condutor. * somente o grau 2

6 – Ataque ao cão durante o transporte frontal – durante o transporte, sob ordem do juiz, o figurante empreende um ataque e o cão deverá reagir imediatamente, mordendo a luva fortemente. Após breve luta e a ordem do juiz, o figurante para a luta e o cão deverá soltá-lo, ou imediatamente após o comando do seu condutor. Após soltá-lo, o cão deverá vigiar atentamente o figurante. O condutor se aproxima, retira o bastão do figurante e com o cão ao seu lado esquerdo, transporta lateralmente o figurante por uma distancia aproximada de 20 passos até o juiz e assim encerra a primeira parte da seção C. * Somente no grau 3

7 – Ataque ao cão a distancia – o condutor desloca-se com seu cão para uma linha imaginária central, pré-determinada do campo, onde aguardam para o ataque a distancia. Sob a ordem do juiz, do outro extremo do campo, o figurante sai de uma barraca e corre até a linha imaginária central. Chegando lá, vira-se em direção ao condutor e com gestos e gritos ameaçadores, corre em direção a eles. Sob determinação do juiz, o condutor comanda o cão para pegar. O cão, com total determinação deverá impedir o ataque do figurante, mordendo a luva fortemente. Após ordem do juiz, o figurante deve interromper o ataque ficando estático. O cão deverá soltá-lo ou sob um único comando de seu condutor, imediatamente. Após soltá-lo, deverá vigiá-lo atentamente. * basicamente igual aos graus 1 e 2.

8 – Defesa ante um re-ataque – após uma espera de 5 segundos, o figurante empreende um ataque e o cão imediatamente deverá morder fortemente a luva. Tendo o cão firmando a mordida, o figurante lhe desfere dois golpes com o bastão acolchoado. Sob ordem do juiz, o figurante cessa a luta e imediatamente o cão deverá soltá-lo, ou sob um único comando do condutor. Sob ordem do juiz, o condutor se aproxima e se posiciona ao lado direito do cão, retira o bastão do figurante e com o cão entre eles, transporta-o a até o juiz. Assim, a seção e a prova são encerradas. * somente os graus 2 e 3

POR QUE TREINAR

A primeira resposta é por simples responsabilidade civil. Por que treinando IGP eu vou estabelecer um autocontrole sobre meu cão de uma forma que nenhum outro tipo de treinamento poderia me dar.

A resposta seguinte é por selecionar os cães mais aptos ao trabalho. As três diferentes seções (A – faro, B – obediência, C – serviço de proteção), faz com que somente um cão que apresente níveis mínimos aceitáveis (consiga atingir um mínimo de 70% em cada uma das seções), possa ser aprovado, assim como um triátlon.

No faro é preciso uma boa persistência para que o cão permaneça numa posição anti anatômica (focinho rente ao chão) durante toda a pista e enfrente situações adversas (dificuldades da pista, variações de clima e solo, formigas, barulhos e etc.). É preciso uma boa concentração para que o cão se mantenha durante toda a pista (a menor delas é a do nível 1, com no mínimo 300 passos de distância) no rastro de um único odor.

Na obediência o cão precisa ser capaz de realizar vários diferentes exercícios (no grau 1, oito e no 3, nove). São exercícios que intercalam concentração, explosão, autocontrole, persistência, treinabilidade (capacidade para ser treinável), determinação. Logo no primeiro exercício (condução sem guia), o cão deve mostrar uma boa capacidade de concentração para seguir o condutor e bom autocontrole e segurança ao ouvir os disparos do revolver e passar no grupo de pessoas mantendo-se o tempo inteiro indiferente a situação e colado à perna esquerda do condutor. Nos exercício de senta e deita em marcha, rapidez nas respostas dos comandos. No deita, na aproximação, capacidade de formar equipe com o condutor (subordinação, determinação, impulso de matilha). No ficar de pé, subordinação e os mesmos atributos da aproximação do deita. Nos 3 exercícios de buscar halter, controle de nervos, determinação, impulso de equipe, impulso de buscar. No mandar a frente, determinação e prontidão (resposta rápida ao comando) para ir à frente e depois, ao deitar-se imediatamente ao comando. No ficar deitado sob distração, indiferença ao tiro e autocontrole.

No serviço de proteção, é preciso antes de tudo mostrar uma boa segurança, altos impulsos de caça e de luta, combatividade, prontidão, nervos fortes e estáveis, uma agressão bem canalizável e muito autocontrole.

Logo no inicio, ao revistar as seis barracas, o cão mostra determinação e subordinação ao condutor, ao fazer o exercício em velocidade. Na localização, mostra segurança, autocontrole, nos latidos, agressividade. Na fuga, impulso de caça e vontade de subjugar o oponente. Ao largar, autocontrole, obediência ao condutor. Nos re-ataques, combatividade (impulso de luta). Nas mordidas, o equilíbrio dos nervos, a combatividade, os altos impulsos. Na condução, a atenção, a subordinação ao condutor, a segurança do cão.

Em suma, mesmo sendo um esporte, é seletivo, pois sem todas essas capacidades psíquicas em seus níveis mínimos, não há como ao menos aprovar um cão. São todas as capacidades que fazem parte de quase todos os requisitos mais básicos para cães de diversos e diferentes serviços que o cão precisa para prestar ao homem. Além de ser seletivo, é uma poderosa ferramenta para garantir a posse responsável.

O IGP e as demais provas (Mondioring, Agility, Obediência FCI, etc.), são todos esportes, estão todos regulamentados, são todos bem diferentes do imprevisível da vida real. Como meio de seleção, embora estejam longe de ver todas as nuances do cão de serviço, ajudam a selecionar vários requisitos essências para diversos serviços diferentes. Falando em genética, jamais conseguiremos separar o que é gênico do que é treinável em qualquer tipo de avaliação. Quando há uma regra (um regulamento), certamente as pessoas podem treinar muito, mas para ser treinável, é preciso ter potencial gênico. Se não há regras, não há meios de se estabelecer parâmetros, não há meios de deixar transparente.

O IGP é um triátlon que dá uma experiência ao condutor sem igual. Quem treina, é capaz de identificar bons cães durante pouco tempo de contato, aprende a manejar filhotes com muito mais conhecimento.

O IGP é um triátlon que ajuda além de selecionar cães funcionais, cães muito inteligentes (treináveis para diversas funções). O que queremos é um cão inteligente e ávido ao trabalho, que esteja sempre disposto ao treinamento.

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